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Escrevivência: A Escrita como Vivência e Resistência

  • Foto do escritor: Kelen Pessuto
    Kelen Pessuto
  • 19 de mar.
  • 2 min de leitura



A escrevivência é um conceito que surge como uma forma de escrita que não apenas narra experiências, mas as vive e as sente no momento da escrita. Termo popularizado por Conceição Evaristo, a escrevivência se caracteriza por uma escrita de resistência que transcende o mero relato, sendo uma forma de vivência da própria história no presente, muitas vezes através da lente das experiências de opressão, luta e resistência. A escrevivência reflete a realidade de autoras negras, e se afasta das formas tradicionais de escrita, que frequentemente buscam uma objetividade desprovida de afeto e de vivência direta.

Conceição Evaristo, em obras como Ponciá Vicêncio (2003) e Insubmissas Lágrimas de Mulheres (2018), coloca a escrevivência como um instrumento de luta contra o apagamento das vozes de mulheres negras. Para Evaristo, a escrita não é apenas um meio de relatar acontecimentos, mas uma maneira de afirmar e dar visibilidade a vivências históricas e sociais, particularmente as de mulheres negras que são muitas vezes invisibilizadas nas narrativas dominantes. A escrevivência  é uma escrita engajada que reflete e reconfigura a realidade das autoras, tornando-se um espaço de afirmação e resistência.

A escrevivência, como uma escrita de si, transcende o simples ato de narrar; ela envolve um engajamento profundo com as condições sociais e históricas que constituem a experiência de vida do sujeito. As autoras que trabalham com esse conceito colocam a escrita como uma prática que se dá em simultâneo com a vivência de uma realidade marcada pela luta, resistência e sobrevivência, e não como algo que está distanciado ou dissociado da própria experiência. Essa forma de escrita traz à tona a ideia de que a vivência é parte integral da narrativa, não sendo apenas um conteúdo, mas um processo de construção e de reconfiguração de uma identidade que está em constante movimento.

A escrevivência, assim, é uma prática literária que reivindica a autoria das histórias de vida, especialmente aquelas que são marginalizadas, e que transforma a escrita em uma ferramenta de afirmação, resistência e construção de uma identidade coletiva e individual. Ela reflete um movimento de reapropriação da própria história, muitas vezes marcada pela dor, mas também pela esperança e pela resistência diante das adversidades.

 
 
 

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