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Graphic Novels como narrativas de Si

  • Foto do escritor: Kelen Pessuto
    Kelen Pessuto
  • 19 de mar.
  • 2 min de leitura


Takoua Ben Mohamed e seu alter ego
Takoua Ben Mohamed e seu alter ego

As graphic novels autobiográficas consolidaram-se como uma importante forma de escrita de si, combinando texto e imagem para narrar memórias, experiências pessoais e reconstruções subjetivas da realidade. Diferente da literatura autobiográfica tradicional, que se apoia apenas na linguagem verbal, as graphic novels utilizam a relação entre palavra e imagem para criar novas formas narrativas, nas quais o desenho se torna parte essencial da memória e da identidade. A combinação de palavras e imagens permite uma expressão mais dinâmica e emocional, permitindo que os leitores acessem camadas profundas da experiência pessoal, além do que as palavras sozinhas poderiam transmitir.

A obra de Marjane Satrapi, Persepolis, é um exemplo emblemático desse gênero. Satrapi narra sua infância e adolescência no Irã durante e após a Revolução Islâmica, usando um estilo de ilustração simples e poderoso para refletir a complexidade de sua experiência de vida. O uso do preto e branco em Persepolis não é apenas uma escolha estética, mas também uma ferramenta narrativa que reforça as tensões e contrastes de sua experiência pessoal, política e social. Satrapi mistura humor e tragédia, permitindo que o leitor se conecte emocionalmente com sua história de uma maneira única e intensa. Sua graphic novel é uma reflexão sobre identidade, guerra, repressão e liberdade, e a forma como ela combina o visual com o texto oferece uma perspectiva multifacetada de sua vivência como mulher no Irã.


Marjane Satrapi (Reproduçã0)
Marjane Satrapi (Reproduçã0)

Da mesma forma, a obra de Takoua Ben Mohamed segue uma linha semelhante ao usar a graphic novel como forma de escrever sobre sua experiência de ser uma jovem muçulmana imigrante na Itália. Nos livros Non stuzzicate la musulmana! e Sotto il velo, Takoua se coloca como personagem desenhada, com seu véu rosa, blusa pink e calça preta, criando uma narrativa que mistura humor e crítica social. Através de sua personagem, Takoua desmistifica a experiência de ser uma mulher muçulmana, abordando os preconceitos e estereótipos que enfrenta enquanto também reflete sobre sua identidade cultural e religiosa. A escolha de usar quadrinhos e essa personagem desenhada permite que Takoua explore sua jornada pessoal de forma leve, ao mesmo tempo em que coloca em discussão questões mais sérias sobre liberdade, escolha e identidade na sociedade contemporânea.

Assim como em Persepolis, a utilização da imagem na obra de Takoua Ben Mohamed não é meramente decorativa, mas uma forma de aprofundar a narrativa e permitir uma conexão emocional mais rica com o leitor. Em ambas as obras, a imagem e o texto trabalham juntos para construir uma compreensão mais complexa da identidade e da experiência pessoal, quebrando barreiras entre diferentes formas de expressão artística e narrativa. A graphic novel se revela, portanto, um meio poderoso para a escrita de si, pois oferece uma plataforma única para a exploração de memórias, traumas, alegrias e conflitos internos, proporcionando uma nova dimensão à autobiografia.

Tanto Marjane Satrapi quanto Takoua Ben Mohamed utilizam a graphic novel para desconstruir estereótipos e dar voz a experiências frequentemente marginalizadas, mostrando como o desenho pode ser uma ferramenta de resistência e afirmação pessoal. Através dessas narrativas, elas não apenas compartilham suas histórias, mas também convidam os leitores a refletir sobre suas próprias identidades, convidando-os a enxergar o mundo através de lentes diferentes e mais empáticas.

 
 
 

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