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Memórias como Escrita de Si

  • Foto do escritor: Kelen Pessuto
    Kelen Pessuto
  • 19 de mar.
  • 2 min de leitura



As memórias são uma forma de escrita profundamente pessoal e reflexiva, onde o autor revisita seu passado e reinterpreta momentos significativos de sua trajetória de vida. Esse gênero permite que o autor ou a autora reconstrua sua identidade a partir de lembranças e experiências, refletindo sobre sua posição no mundo e os contextos que influenciaram sua formação. As memórias, ao contrário de uma autobiografia tradicional, podem ter um caráter mais fragmentado e subjetivo, sem a necessidade de uma organização linear ou coesa dos acontecimentos, permitindo maior liberdade na forma de narração.

No caso de Annie Ernaux, as memórias se configuram como um espaço de exploração não apenas de sua própria vida, mas também da memória coletiva e das questões sociais que moldaram sua experiência. Em A Place (2002), Ernaux se concentra na memória do lugar e das relações familiares, utilizando a escrita para refletir sobre a história de sua classe social e os impactos que essa vivência teve em sua identidade. Para Ernaux, as memórias são um campo fértil para investigar a interseção entre o pessoal e o coletivo, ao explorar como a memória individual se conecta com as estruturas sociais e culturais. Ao escrever sobre seu passado, ela não apenas reconstrói sua história pessoal, mas também se engaja com uma crítica às relações de classe e gênero, utilizando sua própria memória como um ponto de partida para reflexões mais amplas sobre a sociedade.

Por outro lado, Virginia Woolf, em Uma Room of One’s Own (1929), também utiliza o gênero da memória para refletir sobre questões de identidade, espaço e representação da mulher na sociedade. Sua escrita é uma fusão entre a memória individual e a coletividade feminina, e ela reconhece que a memória de uma mulher está sempre inserida dentro de uma estrutura de poder que define seu lugar no mundo. Em seus diários e memórias, Woolf frequentemente se volta para o passado com o objetivo de entender a si mesma, seus traumas e suas relações com o entorno, desafiando as limitações impostas pela sociedade patriarcal. A escrita de memória de Woolf reflete uma constante busca por uma identidade que não é dada, mas que precisa ser construída e reconstruída a partir das experiências pessoais e coletivas.

As memórias funcionam como um terreno de questionamento e autocompreensão, onde o autor busca entender o impacto do passado em sua formação pessoal e em sua visão de mundo. Ao olhar para trás, tanto Ernaux quanto Woolf não apenas resgatam momentos significativos de suas vidas, mas também criam uma narrativa que interage com questões sociais, culturais e políticas, revelando como o passado é uma construção contínua e em constante negociação com o presente.

 
 
 

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