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Os Diários como Narrativa de Si

  • Foto do escritor: Kelen Pessuto
    Kelen Pessuto
  • 19 de mar.
  • 2 min de leitura


Os diários ocupam um lugar central na tradição das escritas de si, funcionando como espaços de registro íntimo, reflexão e construção da subjetividade. Diferente da autobiografia, que tende a ser escrita retrospectivamente com um propósito narrativo mais coeso, o diário tem um caráter fragmentado e processual, acompanhando o fluxo da vida cotidiana. Nele, a experiência pessoal se manifesta em sua forma bruta, com interrupções, repetições e mudanças de perspectiva ao longo do tempo.

Duas figuras icônicas no gênero são Anne Frank e Sylvia Plath, cujos diários revelam não apenas suas jornadas individuais, mas também questões históricas e existenciais mais amplas.

O Diário de Anne Frank (1947) é um dos exemplos mais emblemáticos da escrita autobiográfica, tornando-se um dos testemunhos mais impactantes do Holocausto. Escrito entre 1942 e 1944, enquanto Anne e sua família se escondiam da perseguição nazista, o diário transcende o relato histórico ao revelar a interioridade de uma jovem que amadurece em meio ao terror da guerra. Seu diário, que ela mesma chamou de "Kitty", é ao mesmo tempo um espaço de desabafo e uma construção consciente de si, demonstrando sua crescente reflexão sobre identidade, amor e esperança.

Já os diários de Sylvia Plath, publicados postumamente, oferecem um olhar profundo sobre sua trajetória como escritora e suas lutas internas. Plath utilizava a escrita como um instrumento de autoanálise, registrando suas angústias, desejos e inseguranças. Seus diários são marcados por um estilo literário intenso, poético e introspectivo, antecipando temas que apareceriam em sua obra ficcional, como em A Redoma de Vidro (1963). Através de sua escrita, Plath explora a dualidade entre a persona pública e sua intimidade, expondo o diário como um espaço de tensão entre o desejo de ser lida e a necessidade de confidencialidade.

Os diários, portanto, não são apenas registros do cotidiano, mas formas complexas de construção do eu. Eles revelam o modo como a subjetividade se inscreve na escrita, ao mesmo tempo em que criam narrativas que podem se transformar em testemunhos históricos, literários ou existenciais. No caso de Anne Frank e Sylvia Plath, seus diários ultrapassam o caráter privado e tornam-se parte de um patrimônio cultural, demonstrando como a escrita íntima pode dialogar com questões coletivas e universais.

 

 
 
 

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